segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Fotos Artisticas de Vladi Victorelli

Um gole de Vinho- Pensamentos

Um gole de vinho- Pensamentos


Então olhou nos meus olhos e disse: Não sou vítima dos meu sentimentos...
E corajosamente fugiu da nossa loucura



Vivo tudo tão intensamente que o meu amor, muitas vezes parece violência psicológica!!!



Há de se saber: existe sim a possibilidade de amar sobre diferentes viés, de diferentes formas e diferentes pessoas... Quebrando paradigmas!



É necessário uma dose de coragem, e uma de insanidade para alcançar a liberdade, que só os loucos são capazes de sentir!!



Agora chega, dei-me aqui as suas vestes enlaçada com a sua alma!! Isto é uma ordem!!



Minha alma te sufocaria com apenas um suspiro!



Estou às turras com os meus personagens, querem ditar o que tenho q escrever. Ora essa, quem é que paga as contas desta casa?



Então tá bom, fique do avesso, que te passo o ferro!!



Quando eu chegar ai, por favor coloca o Amado Batista na vitrola, me de um gole de salinas...Ah, e me chame de minha "nega robusta" bem baixinho no meu pé do ouvido



Eu te falei que aquela parte do rio era mais profunda... Vc insistiu! Agora não adianta chamar o salva vidas. Torne-se um boto!



Então me pergunto: Que divâ é este, que em dois minutos de conversa, conseguiu decifrar todo o meu infinito particular? Ora veja, devolva meu dinheiro, ou te meto no Procon.



Então quer dizer que meus anos de chumbo, não serviram para nada? Então tá bom, me sirva os brioches!!

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Entrem sem bater!

Não trabalho com autores mortos!!



Vamos adentrem a porta, esvaziem os bolsos, abaixem as cabeça
Vejam os cadáveres, estão confeccionando uma enorme teia de palavras.
Estão todos rindo, riem não sei do que? Ah, sei sim, riem da nossa decepção, gargalham da nossa sabedoria.
Reparem, Machado, é o que mais ri, está dizendo que ainda estamos preocupados com a traição da Capitu, me parece ébrio, está zombando nos chamando de mexeriqueiros.
Entrem venham, vem para este lado, enxergarão sobre outro prisma.
Parem de ser tão catedráticos.
Me recuso a trabalhar com autores mortos!
Mas quem disse que Machado morreu? Plínio sobreviveu nos moleques do cais, Jorge Amando acompanhado dos seus capitães de areia, percorrem o centro de São Paulo todos os dias...
Um apanhado de livros, pessoas, botecos, prostitutas. Mas porque tudo tão arrumadinho?
Alma em desalinhado, tudo tão bagunçado, tão arredio. Do contrário fosse, seria bula de remédio. Palavras transgênicas
Mundo à parte, entrada só para os loucos, Lobo da Estepe... Fragmentos, onde tudo conta, olhos atentos, pensamentos frenéticos, esquivos, mult cultura literária
Asco ao obvio, a retidão, ao pensamento linear, aquilo que se diz, quando não tem que dizer, preenchimento de lacunas!
Oceano das incertezas, a importância da cadencia, o desprezo pelo verbo, o respeito às vírgulas, os detalhes das entrelinhas severas.
Estou engordando, tecidos adiposos se sobressaem por todos os poros, novas palavras, fartura, digestão, indigestão, liberdade.
Enfiaram um Machado na garganta do Machado, mas a morte não veio, sobrevida, sobressalto.
Mas a morte, não veio, a morte não veio, está vivo em um amontoado de gente.
Ei! Mas o que aquele cadáver esta fazendo de blusa de frio, neste calor!!

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Sarau Erótico

Sarau Erótico

Sarau Erótico com Tula Ferreira, Pilar e Raizarte, quinta feira dia 08/09/2011 às 19h30- Ação Educativa- General Jardim- 660

Erotismo é a essência da arte, essência da alma, essência do belo.
Sem o erotismo não fazemos nada com profundidade, nada com dedicação... Enfim nada absolutamente louvável...

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

São Paulo




São Paulo, é como uma mulher sedenta que cheira a sexo.
Para conquista-lá é preciso andar de peito aberto absolutamente macho. Percorrer com paciência cada degrau,
Beber um copo de gim
Depois, afagos, mais amassos.
Palavras soltas e nuas,
Até encontrar um lugar quente e suave,
Para gozar a cidade inteira
há 23 minutos

sábado, 6 de agosto de 2011

O CASTELO DE ROBSON MIGUEL- MATÉRIA REVISTA RAÇA DE SET/11

O castelo de Robson POR CLAUDIA CANTO | FOTOS VLADI VICTORELLI






Um espaço repleto de informações culturais e de importantes documentos da nossa história, que vão desde o descobrimento do Brasil, até o surgimento do violão. O anfitrão, Robson Miguel é um dos mestres do instrumento no mundo





Em tempos de reis, rainhas e plebeus, descobrimos o violonista Robson Miguel e seu castelo, um espaço com 2.056 m² de área construída num pedaço da mata atlântica às voltas da nascente do Rio Ribeirão Pires. Ali, Robson costuma receber personalidades, artistas e amigos das mais diversas partes do mundo. O castelo possui divisões que nos remetem às histórias de reis, indígenas, negros, além de peças de tortura, calabouços, pelourinho, forca, roda de estiramento, labirintos, passagens secretas, túneis e um buraco negro com quase 100 metros de extensão a 30 metros abaixo da terra. Tudo é fruto de viagens e pesquisas que Robson faz como historiador. Um paraíso arquitetônico, eleito como a mais bela e exótica construção do Brasil em estilo medieval.

De família humilde, ele nasceu na antiga aldeia dos Índios Guarani, na região dos mangues de Vila Velha, em Vitória, no Espírito Santo. Sua etnia representa a maioria da população brasileira, mistura de negros e índios. Aos nove anos, Robson iniciou seus primeiros acordes, e com 12, foi classificado e entrou em uma turma avançada do Conservatório Musical, em São Caetano do Sul, no ABC Paulista. E foi exatamente nesta época, que viveu a fase mais complicada da sua infância: depois do abandono do pai, viu-se obrigado a ajudar a mãe a sustentar seus cinco irmãos. "Vendia doces, legumes, confeccionava pipas e engraxava sapatos", conta. Nesse ponto da entrevista, ele sorri, descontraído, quando relembra a época em que montou uma equipe de engraxates. Emprestava suas caixas de frutas, que ele próprio personalizava e, no final do dia, ganhava uma porcentagem do trabalho. "Era a única maneira que eu tinha para ajudar a minha mãe a sustentar meus cincos irmãos, e ainda conseguir estudar.

Sua majestade, o violão!


Buraco negro com 100 metros de extensão, é uma das atrações do castelo de Robson Miguel
Logo, as aulas no conservatório lhe possibilitaram o talento para ensinar. Dava dicas, ao mesmo tempo em que escutava os acordes de mais de cinco exigentes alunos. Foi nesta ocasião que desenvolveu o talento de tocar e narrar histórias ao mesmo tempo. "Descobri que a história do violão começou na Espanha, onde era tocado para reis e rainhas. Passei a sonhar com a ideia de ir conhecer alguns destes castelos. A grande dificuldade eram os meus recursos financeiros ínfimos. Passei 10 anos juntando dinheiro. Sofri muitas necessidades e tentações. E exatamente no dia 25 de julho de 1985 consegui realizar o meu sonho." Foi em Málaga, na Espanha. Robson se viu muito emocionado quando entrou em um castelo da região. E mal sabia ele que essa visita seria o começo de algo muito maior.

Ao todo, Robson conheceu 78 castelos e, a cada um que adentrava, a ideia de construir um castelo em homenagem ao violão se tornava mais obsessiva em sua cabeça. "Retornando ao Brasil, não tive mais dúvidas. Iria construir um castelo onde toda a história do violão seria contada, ao mesmo tempo em que ilustraria a história do meu país e das minhas origens. A saga dessa construção demorou cinco anos. Idealizei todo o projeto, acompanhei a colocação de cada tijolo, pensei nos mínimos detalhes", relembra Robson.

Da aldeia para o berço europeu


Uma vida de sucesso: galeria de prêmios, CDs, DVDs e medalhas
A bem-sucedida carreira de Robson como violonista é uma história à parte. A crítica europeia se surpreendeu ao ouvir suas apresentações, declarando que o seu conhecimento, aliado a sua criatividade, é próprio da genialidade dos grandes músicos. Em comemoração aos 500 anos da América, ele foi escolhido pelo governo Espanhol para representar o Brasil no Castelo de Córdoba.

Nesta comemoração foram reunidos os 67 melhores violonistas da atualidade. Com a oportunidade, Robson resolveu ficar um período na Espanha, divulgando a música popular brasileira e universal, com suas técnicas inovadoras. Ele é considerado o único artista capaz de tocar qualquer música, ao mesmo tempo em que narra histórias.

Em suas apresentações, é comum a plateia ir ao delírio quando ele toca o hino nacional no idioma Guarani, além de transformar os acordes do seu violão em uma autêntica escola de samba, imitando sons de cavaquinho, bumbo, cuíca, berimbau. Atualmente ele ocupa o 1º lugar no Ranking Mundial de Violonistas, reconhecimento outorgado pelo Círculo Violonístico Europeu de Madrid - a "terra do violão". Sua obra é composta por 16 DVDs, 23 videos- aulas, 27 CDs, e 22 livros publicados, com destaque para Th e Jazz In Your Hands, publicado ela editora Real Madrid da Espanha, está na galeria dos mais vendidos.

Sua esposa, a cantora e artista plástica, We e na, é uma bela índia da linhagem Tikuna. Eles se conheceram em Manaus, durante uma apresentação de Robson. "Quando nos casamos, ele não me falou que iríamos morar em um castelo. Ao chegar, tomei um susto, mas logo me adaptei, não mudei em nada meu comportamento. Para mim, não tem muita diferença. Aqui ou na Oca, sou a mesma pessoa", afirma We e na. Falando nisso, Robson - que é Mestre Cacique - desconfiava que nas redondezas do município de Ribeirão Pires, onde está localizado o seu castelo, havia um cemitério de índios e negros. E para a sua alegria, a desconfiança se tornou real. "É um legado histórico, através de várias pesquisas arqueológicas, chegamos ao cemitério", orgulha-se. No dia desta entrevista, nossa equipe o encontrou na inauguração do local. Uma grande festa. Dezenas de índios corriam ao redor do cemitério, com Robson Miguel à frente e sua esposa We e na. "O que eu puder fazer para quebrar os paradigmas contra os negros e índios, eu farei. Na Europa sou conhecido como brasileiríssimo!", resume.

"O QUE EU PUDER FAZER PARA QUEBRAR OS PARADIGMAS CONTRA OS NEGROS E ÍNDIOS, EU FAREI. NA EUROPA SOU CONHECIDO COMO BRASILEIRÍSSIMO! "

O ENIGMA DA LUZ

É tradição: todos os castelos do mundo possuem os seus segredos. O Castelo de Robson Miguel, não é diferente. Com a ajuda de pedreiros, ele construiu um orifício no cume do teto e esperou o dia e a hora de seu nascimento, para em questão de segundos, determinar com precisão a incidência da luz do sol em cima de seu ataúde. "Passamos três anos observando e demarcamos o espaço exato. Foi muito trabalhoso, mas valeu a pena. A partir daí, todos os anos - no dia e hora do meu nascimento - o sol bate no local do meu ataúde. Exatamente no instante em que a minha mãe me deu à luz. Equipes de televisão já vieram testemunhar, dando a entender que fosse uma informação falsa, mas saíram convencidos. Há seis anos, ilustres convidados são recepcionados para registrar o enigma da luz no Castelo de Robson Miguel.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Mundo dos Raros em Paraty

Mundo dos Raros em Paraty

Tudo levava a crer que aquela viagem à Paraty, no encalço dos literatos mais renomados seria como uma via crucis no deserto.
As únicas coisas que tínhamos além da nossa ousadia eram as vassouras que compunham nossos personagens.
Nosso objetivo era fazer intervenções artísticas nas ruas.
Empunhávamos a bandeira - Morte ás Vassouras, um brado em defesa das empregadas domésticas.
A cidade cheirava poesia e malícia, com escritores e poetas maloqueiristas em todas as esquinas. A lua cheia iluminava a cidade, só que desta vez ela teria outra função: Testemunhar tudo que estava prestes a acontecer.
Num camping passamos a nossa primeira noite. Depois de termos sacudido toda a cena nostálgica e benfazeja de Paraty.
Vestida de empregadas domésticas, gritamos nos ouvidos de uma classe média suicida:
- Empregada não é escrava é cidadã e trabalhadora!!
Bradamos toda a indignação de suas empregadas, uma classe esquecida. Que nossa burguesia alienada costuma usar como artigo decorativo dos seus palacetes.


Preparem se para entrar em um mundo, onde os personagens estão ansiosos por experiências transcendentais, um mundo que só os raros são capazes de adentrar.
Tudo o que aqui subscrevo vem de acordo com a nossa alma desprovida de censura, além do clima romanesco que encontramos em Paraty.
A partir deste momento tudo o que for relatado, será um misto de ficção com traços realidade. Como já disse, nossa única testemunha era uma linda lua cheia, que aquelas alturas já deveria estar inebriada pelo vinho que bebíamos ao sabor das ondas do mar.

No meio do caminho havia enormes pedras!

Caminhava sozinho pelas ruas, procurando alguma emoção. Estava querendo curtir uma noite de sexo livre, sem compromissos, já que Paraty fervilhava de pessoas interessantes. Sabia que não tinha condições psicológicas para ir, além disto. Talvez porque não conseguisse esquecer aquela imagem...
Meu irmão ali estendido embaixo daqueles escombros. Oh Meu Deus! O quanto não deveria ter sofrido! Logo ele meu ídolo, aquele que foi exemplo para toda uma geração. Por insistência dele, estava tentando uma nova carreira, uma vida mais independente, menos irresponsável. Faziam menos de três meses que o acidente havia acontecido, e desde então me mantinha monossilábico, distante, mais do que sempre fora!
A única coisa que ainda me confortava eram aquelas noites de prazer, que preenchia minhas noites solitárias. Mas que duravam pouco, o período em que permanecia de encontro comigo mesmo, eram muito mais longo.
Antes “ela” me fazia companhia, mas de uma hora para outra, tudo ficou tão cansativo. Meu distanciamento a afastou ainda mais, resolveu seguir sua vida, foi atrás de alguém que a entendesse melhor, cansou de ser um objeto de decoração.
Eu no seu lugar, confesso, teria feito a mesma coisa...
Foi permeado com estes pensamentos que os encontrei. Seguia um pouco alcoolizado, tinha decidido arrumar uma companhia para passar a noite. Queria um colo que pudesse transferir um pouco da minha ansiedade.
Primeiro nos esbarramos na rua, eram atores amadores, soube que vieram fazer intervenção artística nas ruas do centro histórico.
Os encontrei saltitantes, excitados. Interpelaram-me com algumas frases de efeitos, mas diante da quantidade de vinho que havia ingerido, suas palavras me pareceram desconexas. Lembro que respondi com alguma cantada, não me lembro muito bem. Mais tarde os encontre em um quiosque na praia. Nossa aproximação foi imediata.
Tinha escolhido a minha companhia para aquela noite.
O que se passou a seguir foi todo o ritual do macho no cio. Na primeira abordagem fui rejeitado, ela tinha algo de diferente, era mais sagaz do que minhas outras vitimas.
Mas não desisti, tinha decidido que sairia com aquela mulher e isto iria acontecer.
Mas uma tentativa em vão, depois outra... Cansado daquele jogo de gato e rato, resolvi tomar a iniciativa e roubei-lhe um beijo. Ela inicialmente resistiu, mas depois acabou cedendo. O elo tinha sido feito, agora poderia ficar despreocupado. Não adiantava mais aqueles gatunos em volta dela. Já tínhamos selado um compromisso. Para mim nada daquilo me causava emoção, era apenas mais um beijo.
O que me causou certa curiosidade, eram algumas palavras que eles me dirigiam, me deixaram um pouco confuso. Não entendi o quanto eram raros, percebi que eles formavam um time que se complementavam.
Enquanto caminhávamos procurando algum lugar para uma última refeição, pensava como poderia levá-la para minha casa, sem ser indelicado com ele.
Com o tempo percebi que o meu intento seria em vão, não conseguiria, os dois não se desgrudavam. Quanto a mim, não me sentia motivado a compartilhar minhas experiências. O que buscava era apenas uma noite de amor sem complicações, mas aqueles dois tinham uma excitação tão grande pela vida, que me deixavam amiúde e sem jeito.
Enquanto eles contemplavam a paisagem, eu os admirava pela alegria de viver. Tudo aquilo, já não me transmitia muita coisa, meu tesao por aquelas paisagens já não era mais o mesmo.
Não conseguia me interar com aquelas pessoas. Eram como se estivéssemos em planos distintos.
A única coisa que conseguia pensar era na dor que o meu irmão havia sentido, uma morte abrupta e com conseqüências para toda uma geração. O único elo com o meu irmão era uma pedrinha, que guardava como se aquilo pudesse nos aproximar, eram poucos os momentos em que me separava dela.
Quando recebia algum convidado, sempre tomava o cuidado de guardá-la, não queria ter que dar explicações a respeito da sua origem, era a única coisa de valioso que tinha na minha casa. .
Dormimos os três na mesma cama, tontos pelo vinho, logo adormecemos, não sem antes trocar algumas caricias com ela. Que lembrando agora não passaram de meros toques sem profundidade. Confesso que foi apenas para dominar meus instintos, um desejo louco de possuir seu corpo nada mais.
Foi quando acordei que notei que a pedra não estava no local. Então num ato desmedido e insano, os acusei, sem pensar nas conseqüências.
Ele com calma olhava para todos os lados, como se estivesse procurando algum jeito de dominar minha ira. Enquanto ela aos gritos me chamava de louco, inescrupuloso, enquanto arrancava a roupa com ódio, querendo me provar que não havia roubado nada.
Desesperado passei a revirar toda casa, enquanto lembrava do meu irmão. Só depois de algum tempo, lembrei da gaveta secreta em que costumava guarda la. Para minha vergonha a pedra estava intocável no seu lugar.
Os pedidos de desculpas infindáveis, não foram o suficiente, tinha perdido a confiança de duas pessoas, que não sei por que, sentia que poderiam ser grandes amigos. Não soube receber o presente que a vida havia me dado.
Foram embora indignados e revoltados com a minha atitude...
Em casa sozinho, me sentia envergonhado, lembrava da minha atitude leviana. Foi quando olhei ao lado, e vi o casaco dela sobre a cadeira, talvez a vida estivesse me dando mais uma chance para me desculpar.
Pulei rápido da cama, vesti o casaco dela, e de bicicleta rodei a cidade inteira atrás dos dois. Quando estava quase desistindo, os enxerguei no caminho inverso ao meu.
Aproximei-me com o casaco na mão pedindo desculpas, e para minha alegria eles disseram que já haviam me desculpado!
Sinto que foi somente naquele momento que verdadeiramente nos encontramos, o resto não existiu, nascia ali uma comunhão de almas amigas.
Ela o amigo e eu!

Claudia Canto

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Foto Vladi Victorelli

Por Vladi Victorelli
Em suas andanças pelas ruas de São Paulo, uma das nossas bandeiras cachorros de ruas.

terça-feira, 7 de junho de 2011

Sarau Erótico em companhia do Exu do Raul

Sarau Erótico em companhia do Exu do Raul


Cheguei naquele ambiente, indecisa. ECLA - Espaço Cultural Latino Americano.

0 que significaria aquela sigla?


Uma amiga havia me dito que ali se escondiam alguns pensadores de esquerda que ainda carregavam no ventre, ideais socialistas, e sonhos de um mundo mais justo.

Seria mesmo que aquele Sarau Erótico, protagonizado pelo EXU, me faria economizar alguns anos de terapia? Não sei! O que não poderia era continuar vivendo aquela vidinha insalubre, que sem querer o destino vinha me empurrando.

Depois de muito relutar tomei a decisão.

27 de maio 20hs, sexta-feira

Antes de sair, despedi-me da boneca, certifiquei-me se a chave da porta estava em cima da penteadeira como de costume, observei se a cadela estava bem alimentada, depois da boneca, ela era a minha principal companheira.

Quando estava no portão, resolvi voltar... Fui ao meu quarto abri a bolsa, peguei a boneca, fui ao toalete pela última vez. Depois de corpo e alma saciados, me senti encorajada... Ainda o olhei, estava sentado na mesma posição, concentrado num filme americano.

Foi só quando abri a porta, que me olhou de soslaio. Percebi seu estranhamento, quando notou o tamanho da minha bolsa, não vez nenhum movimento, suas órbitas saltaram da esquerda para direita rapidamente, depois voltaram de novo para tela da televisão.

Na certa pensou que fosse ração para os cachorros de rua, que tinha o costume de alimentar todas as noites.

Foi na internet, que ouvi falar pela primeira vez do espaço, e também foi lá, que descobri a Banda Exu do Raul. Lembro que o nome me causou certa curiosidade, há algum tempo planejava conhecer o trabalho deles. Mas confesso que aquele nome, me causava certo receio- EXÚ DO RAUL? Como gosto muito do Raul, achei que deveria ser algum trabalho que não conhecia.

E mais, tinha esperança que naquele espaço, pudesse encontrar alguém para conversar mais profundamente, estava cansada daquele círculo vicioso de novela, futebol e programas de auditório.

Aquela com certeza seria uma ótima noite. Sarau Erótico e ainda naquele espaço! Iria unir o útil ao singelo.

Para isto planejei tudo... Tinha reservado vestimenta adequada para ocasião- vestido comprido vermelho, com um decote saboroso. Na bolsa, levava um sapato alto da mesma cor do vestido, e para trazer sorte, minha lingerie era também vermelha, a mesma que usei nas nossas primeiras núpcias.

Para os cabelos um lenço ameixa rendado... Ah, também pensei no perfume, desta vez tinha optado por um aroma masculino. Junto com este kit, estava a boneca. Não sei se era impressão minha? Mas os seus olhos estavam com um brilho diferente.

Havia separado algumas poesias picantes, outras um pouco agridoce, mas o que não sabia é se teria coragem de lê-las.

Do telefone público, liguei para casa, tinha inventado uma ótima desculpa. Diria que iria dormir na casa da D. Odete, uma senhora doente, que ajudava a cuidar. Mas o telefone tocou diversas vezes, até que por fim desisti... Que sentisse a minha falta! Que se corroesse na cama, sem saber em qual cama eu dormiria. Maldito, todos os dias tinha que dormir com aquele homem insensível ao meu lado.

Ah, se não fosse a boneca já estaria maluca.

Enquanto subia a Augusta calmamente, buscava coragem no olhar das pessoas, que passavam por mim. Era como se tivesse prestes a cometer o ato mais libidinoso da minha vida.

Fui seguindo com pensamentos desconexos saltitando no meu cérebro... Medo, tesão, gana,voracidade, ingenuidade, vida.

Em frente a uma boate, reparei em uma mulher, ou seria um homem? Este detalhe pouco importa. O fato é que ela me olhou de uma maneira tão apiedada. Com o mesma piedade que olho para os cachorros abandonados nas ruas.

Tive vontade de interceptá-la, e perguntar por que ela me olhava daquela maneira? Como se a vida que ela levasse, fosse melhor que a minha.

-Ah, insana, quem pensas que é?

Por acaso tem marido, casa, amigos? Porque, então me olha com tamanho desdém?

Continuei seguindo, bares, boates, clubes, saunas. Parecia que estava em um mundo perdido. Aquilo tudo estava começando a me seduzir, abri minha bolsa, apertei a minha boneca, estava totalmente excitada.

Entrei no banheiro de um bar, olhei-me no espelho e lembrei-me do olhar daquela mulher. Ela tinha razão, parecia uma gata desnutrida!

Despi-me ali mesmo, troquei rapidamente de lingerie, instilei o perfume, coloquei meu vestido, me maquiei. Transformada, olhei de novo no espelho, não me reconhecia!!

Acariciei-me com a boneca, senti uma deliciosa sensação, algo inteligível.

Agora sim, me sentia atraente desejada.

Quando sai do bar, escutei alguns comentários elogiosos. Enaltecida, segui o meu caminho.

Mas derrepente, lembrei do meu marido, naquela altura deveria estar preocupado. O que eu estava fazendo? Que loucura era aquela?

Senti-me envergonhada, suja, abjeta... Resolvi voltar para casa, precisava correr fugir daquelas sensações, aquele mundo não era o meu.

Era uma mulher casada, dona de casa e se alguém me reconhecesse, naqueles trajes?

Desatinada, corri para um ponto de táxi...

Sentada no banco, o filme da minha vida passou pela minha cabeça.

Tinha 30 anos, uma casa e um marido, nada mais. Absolutamente nada!

Minha vida, não tinha outros personagens, meu marido tinha razão. Eu era uma mosca morta!!!

De súbito, gritei

- Volta, volta, segue para o Sarau Erótico!!

O motorista olhou-me sem entender nada!

Foi neste estado de espírito que cheguei ao Sarau.

Desmedida, saturada, encabulada, excitada...

Pedi uma taça de vinho, duas, três...

A única coisa que consigo lembrar nitidamente, eram os olhares desencontrados enquanto lia minha poesia, apertando a minha boneca ao mesmo tempo.

Na verdade não lia, graceja, vociferava, gritava. Como se aquele grito, fosse à quebra das minhas algemas, como se estivesse saindo de um presídio.

Lá pelas tantas, dancei em transe acompanhada do Exu. Vida, descontentamento, acolhimento, caos.

Inúmeras pessoas andavam para lá e para cá, procuravam acalentos, era como uma vertigem.

Resolvi sentar, fiquei um bom tempo, alheia a tudo e a todos.

Foi quando ele chegou, olhou nos meus olhos e me admirou. Calada, sem fala, sem ventre, sem ameaça, sem pudor.

Beijei-o com toda a força do meu desejo contido, nossas línguas arredias, se desencontravam gulosas, terna, desesperada.

Beijamo-nos incansavelmente, até o amanhecer do dia.

Hoje ainda sinto o gosto da sua boca, seu toque desesperado.

O que veio depois...

Não posso torná-lo um personagem, fugiu das regras.

O que nos uniu foi o erotismo daquele sarau. Depois era tudo o que já conhecia.

Amiúde sigo procurando, mas sempre acompanhada da minha boneca.

Esta sim, consegue me entender!!!

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Death to Brooms, diary of a journalist who became a maid in Portugal

Death to Brooms, diary of a journalist who became a maid in Portugal

When I decided to go deep with this experience, many stones had already rolled ... Bread, coffee and a bit of culture, was my daily menu in Brazil. Either I would keep standing at the window, watching the spectacle of my country's economical crisis, or I would go to Europe to earn millions of Euros and culture!
I chose the second wreck and as I realized afterwards, thousands of Brazilians and Africans also had the same idea. Venturing as a prostitute and sinking as a maid.
On my return I brought in my luggage a rarity. A diary containing a critical analysis of a reality experienced by many emigrants, but recorded by few. A matchless historical controversial report
First Illusions
An unending crisis in my country made me take this decision
I joined a friend, we cheered our decision and began to prepare our great trip.
My first international journey. Until then I had never left Brazil, I had never gone out of my mother's home.
Through an ad in the newspaper, we found an employment agency. Work in Portugal, with the right to acquire a work visa, pay only half now and the rest later. Excited, we went to see this promise of paradise on earth. The agent was a communicative and picturesque Japanese. The value of the contract was twice the round-trip ticket to Portugal, but the great advantage according to his argumentation was the chance of getting an employment as soon as we would arrive, and the work visa.
The only problem is the culture shock, the adaptation on the first months, the first world organization, the responsibility of working hours.
Oh, and longing for our family and friends. Think about.
We finance the ticket in 12 parcels, due only after the first paycheck.
Full of interest, we returned to the agency, but this time we did not go alone.
We showed up there with my boyfriend, a taciturn German globetrotter, the father of my friend, a infinitely cunning negro and my mother, dramatizing and wondering all the details.
All wanting to unmask the villain for a possible scam.
The only ones who believed in the honesty of the Japanese, was my friend and me.
After many investigations, opinions and advices, we declined the promises of the Japanese and decided to go alone.
Europe for me was the beginning of bliss.
I have left my job, sold my furniture, my old bike, informed my family, left my boyfriend.
We have planned our trip so enthusiastically, that it would make a fine adventure film.
Suddenly my friend's father died, and with him her dreams.
Now I was alone, me and my dreams. I could not give up, I had no job anymore, no furniture, nor anything like that.
I just had one fixed idea in my head. Go to Europe.

sábado, 12 de fevereiro de 2011

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Ano Novo no Complexo do Alemão

Ano-Novo no Alemão
Afinal, o que tem de verdadeiro nas notícias que vêm do apoteótico Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro

http://racabrasil.uol.com.br/cultura-gente/151/artigo208091-2.asp




Resolvi verificar o que de fato estava acontecendo por lá. Ver e ouvir as remitências de todo este processo. Confesso que a minha decisão foi tomada na exatidão de alguns suspiros. E foi assim, de forma improvisada, que no dia 31 de dezembro desembarquei na rodoviária do Rio de Janeiro. Assisti a uma cidade em ebulição, pessoas num ritmo alucinado, correndo por todos os lados, buscando alcançar uma condução para os inúmeros eventos que a cidade ofereceu. Desta vez, o governo teve a ideia de tirar o monopólio de Copacabana, espalhando palcos em mais oito bairros. Seria esta uma tentativa de reservar a princesinha do mar apenas aos turistas? O fato é que naquele momento me pareceu que só eu seguia o caminho inverso.
Na Central do Brasil, esperei por cerca de duas horas um ônibus que me levasse ao meu destino. Cansada de esperar e vendo as horas se adiantarem, resolvi cometer a heresia de pegar um táxi.
Este meio de transporte, a menos de meia hora da virada, era quase a mesma coisa que ficar exposta ao perigo de uma bala perdida. Mas tinha a ideia fixa de passar o ano-novo na casa de alguma família no Complexo do Alemão, e assim o faria. No táxi arrisquei a pergunta:
"Como está o clima no Alemão?" A resposta veio junto com um sorriso: "Agora está tudo bem! Pode entrar lá sossegada, sem medo... Te deixo no pé do morro e você vai subindo", disse o motorista. Foi só quando ouvi a palavra medo, que tive a exata noção do que estava pretendendo fazer. Mas já era tarde para grandes reflexões. Cheia de expectativas, adentrei o Complexo do Alemão e me deparei com dezenas de carros da polícia e homens fortemente armados. Sem saber para onde seguir, resolvi sentar em um bar, na esperança de conhecer pessoas, mas minha primeira tentativa foi em vão. Percebi que não seria fácil conseguir algum amigo de última hora, as pessoas olhavam esquivas para mim, logo percebiam que eu não era do bairro. Decidi ir para outro bar, pedi uma cerveja e fiquei ali, despretensiosamente observando a movimentação. Resolvi tentar conversar com duas mulheres, mas, ao perceberem o teor das minhas perguntas, foram logo dizendo que não sabiam de nada.

Em outra tentativa, a sorte sorriu para mim e, aquilo que tinha planejado, aconteceu. Passei o ano-novo na casa da família Silva. Pude perceber que naquela casa todos apoiavam a iniciativa do governo, mas certa dose de insegurança ainda permeava os pensamentos por lá. "Hoje em dia podemos circular por todos os lados, antes vivíamos subjugados, 'eles' ditavam as ordens, não tínhamos tranquilidade, não tínhamos segurança nem dentro da nossa própria casa", diz Dona Ivonete, que me aponta o cachorro da família, vítima de estilhaços de vidro causados por bala perdida. E continuou: "Mas sei que não acabou, tem muitos deles escondidos por aí", conta. Percebi em todos, a todo o momento, que a ocupação da polícia tinha sido uma das melhores coisas que poderia ter acontecido. Mesmo inseguros com o futuro, comemoravam o presente. Conheci histórias recheadas de romantismo. Uma delas foi a de Marcelo, que preferiu não ser fotografado. Aos 26 anos, nunca havia ido à padaria da esquina da sua casa. Depois da ocupação, ele foi ao estabelecimento pela primeira vez. "Voltei animado, e tenho esperança que tudo vai mudar daqui para frente", afirmou, emocionado. Marcelo seguiu conversando comigo, mas a mãe interrompeu. "Minha filha, não tire foto da gente, não quero que me identifique, porque onde tem ninho de cobra, as cobrinhas ficam lá", explicou.

Meu próximo passo era encontrar alguém ligado aos Direitos Humanos nas favelas. Foi então que cheguei a Gisele Martins, jornalista e moradora do Complexo da Maré.
Ela acompanhou de perto a invasão no Morro do Alemão e se mostrou bastante descrente em relação a este poder bélico que, de uma hora para outra, resolveu proteger a comunidade. No meio da entrevista, Gisele tomou um susto ao ouvir um barulho de fogos de artifício na rua.
Depois de recomposta, revelou que tem traumas e que a qualquer momento sente que poderá acontecer um conflito. "O que a gente aprende na favela é que quando se vê um 'caveirão', a ordem é correr! Já houve tempos em que não consegui sair nas ruas. No dia da invasão ao Alemão, pensei nas famílias, na invasão de suas casas de forma truculenta, nas pessoas que não têm voz para reclamar", afirmou. Para ela, a mídia dá a entender que todo mundo que mora na favela tem envolvimento com o tráfico. A maioria das pessoas, porém, trabalha, sai às 5 horas da manhã de casa, chega tarde da noite querendo descansar. "Mas infelizmente, a todo o momento tem helicóptero em cima de nossas casas, impedindo a gente de circular. Nossas casas são invadidas, somos desrespeitados, humilhados, isso ninguém revela. A mídia não mostra as atrocidades que são cometidas. As UPPs entram com a ideia de trazer uma cultura que não é nossa, querem mudar o nosso modo de viver. Cultura a gente já tem, não precisamos do modo de viver do Leblon", resume Gisele. Tudo isto épor causa da Copa do Mundo, em 2014, e das Olimpíadas em 2016. Mas, e depois, como vai ficar?

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

A ÚNICA COISA INOCENTE É A COITADA DA BOLA

A ÚNICA COISA INOCENTE É A COITADA DA BOLA

Ao ler sobre as falcatruas do futebol, confesso que cheguei a me arrepender das vezes que pulei as páginas de esporte, ou deixei de me aprofundar em assuntos que ia além do tamanho das coxas do Ronaldinho, ou do romance Romeu e Julieta do Alexandre Pato.
Descobri, ou talvez já soubesse que o futebol inocente, só acontece nos campos de barros das periferias, ou nas vielas das favelas. E olhe lá!
Lembrei também do tempo em que condicionada pelo meu pai, resolvi me tornar corintiana, mas este condicionamento acabou quando o “Viola” um dos principais jogadores da época, foi comprado pelo Palmeiras e sem o menor respeito pela torcida que o idolatrava, fez a seguinte declaração:
NUNCA FUI CORINTIANO, SEMPRE FUI PALMERENSE!
Após a declaração ainda deu uma bela banana para a torcida.
Pensei: então eu sou uma BOBA, que este tempo todo vem torcendo apenas para um símbolo?!
A partir daí nasceu minha desconfiança pelo futebol.
A politicagem e a informalidade do futebol, só podem ser explicadas devido à cegueira e infelizmente o nível cultural de alguns torcedores. Que se importam apenas com o resultado dos jogos, e nunca param para analisar, que este resultado pode estar ligado a outros meandros que nem sequer imaginam.
Que vão desde a política, urbanismo, e agora por ser um assunto em moda, até o indefeso meio ambiente.
Mas o que será que vem antes do gol, no momento em que estão sendo escolhidos os jogadores, os patrocinadores, as loiras, e até os juízes?
Para confirmar minhas suspeitas resolvi fazer a seguinte pergunta para 20 torcedores.
Você sabe quem é Ricardo Teixeira, e qual o seu cargo?
Para minha surpresa apenas metade deles sabiam de quem se tratava, e a outra parte apenas ouviram falar, mas não sabiam qual era a sua verdadeira função na CBF.
Mas o que se pode esperar de um país, onde a maioria das pessoas afirmam: Política, Religião e Futebol, NÃO SE DISCUTEM

Claudia Canto, escritora e jornalista

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Claudia Canto

Sobre a autora
Em 2002, Morte as Vassouras, sonhos, ilusões, vontade de mudar de vida, depois o que não esperava: privação da liberdade, escravidão.
Em 2004 Bem Vindo ao Mundo dos Raros, uma viagem no universo da loucura, para alem do racional.
Em 2006, Mulher Moderna Tem Cúmplice, um romance que sai do comum, exatamente por ser tratar de mulheres e homens de carne e osso, em cada página nos identificamos com os personagens, como se fossem a nossa própria historia.
E agora Cidade Tiradentes de Menina a Mulher, uma abordagem lírica do maior conjunto habitacional da América latina.
Um livro a cada dois anos, nos intervalos arrisquei viagens inusitadas em busca de novas culturas, circulando, quebrando barreiras invisíveis dos preconceitos.
As pessoas são ótimos personagens, os botecos, os cantos escuros, um acervo de novas idéias, não e fácil fugir dos rótulos... O que une estas quatro obras: inquietação

Alguns momentos!!

sábado, 8 de janeiro de 2011

Ano Novo no Complexo

Para aqueles que estão me perguntando a respeito da minha experiência no Complexo do Alemão. Aguardem matéria completa na Revista Raça de fevereiro.
Posso adiantar que a experiência foi extremamente afortunada e repleta de aprendizados.
Jornalismo para mim é isto: o resto é armazém de secos e molhados ( Millor Fernandes)

Doces Recordações!


Doces Recordações!!

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Descobrindo o Quilombo- Revista Raça

http://racabrasil.uol.com.br/cultura-gente/150/artigo205553-1.asp

Descobrindo um quilombo- Revista Raça

A ideia que eu tinha era de um lugar com características peculiares, mais precisamente a conservação da arquitetura de tempos idos. E foi com este pensamento que atravessei a cidade de São Paulo rumo ao Capão Redondo. Era de lá que sairia a excursão que nos levaria ao Quilombo Caçandoquinha
No ônibus iriam 25 pessoas, a maioria, como eu, pela primeira vez. Viajei ao lado de João Bosco Coelho, um homem apaixonado pela causa e que através do Instituto Luiz Gama desenvolve um trabalho de apoio jurídico às comunidades Quilombolas. Muitas vezes havia conversado com ele sobre o assunto, mas a verdade é que até aquela viagem, não tinha ideia da verdadeira dimensão da questão. Também não imaginava o tamanho da bagagem que traria de volta, um conteúdo que não encontraria em nenhum banco escolar. "Os quilombos não pertencem somente ao passado escravagista.

Ao contrário, mais de duas mil comunidades quilombolas espalhadas pelo território brasileiro mantêm-se vivas e atuantes. São casas simples construídas pelas mãos dos negros, que representam para a comunidade o valor da liberdade", explica João Bosco. O Quilombo Caçandoquinha foi o escolhido. Ele faz parte de diversas comunidades, como Praia do Pulso, Caçandoca, Bairro Alto, Saco da Raposa, São Lourenço, Saco do Morcego, Saco da Banana e Praia do Simão. De acordo com o Incra, toda área possui 890 hectares, localizada em uma das mais valorizadas praias do litoral norte de São Paulo. Ao seu redor, existem pelo menos 3 luxuosos condomínios fechados, e exatamente por isto, é que o terreno virou palco de intermináveis disputas judiciais.

A história da comunidade iniciou-se em 1858, quando o português José Antunes de Sá comprou a Fazenda Caçandoca. Era dividida em três núcleos administrativos que abrigavam uma casa-sede e um engenho. Cada um deles administrado por um filho de José Antunes: Isídio, Marcolino e Simphonio. Do envolvimento com mulheres negras que trabalhavam nas terras, nasceram filhos ilegítimos. Em 1881 a fazenda foi dividida entre filhos e netos. Uma parte dos ex-escravos mudou-se para outras localidades. Outra permaneceu na condição de posseiros, com autorização para administrar seu próprio trabalho. Os filhos ilegítimos e ex-escravos deram origem às principais famílias que hoje formam a comunidade da Caçandoca.

Na fazenda produziam-se café e aguardente de cana-de-açúcar. Depois de seu desmembramento, em 1881, o café foi sucessivamente substituído pela banana e a mandioca. Estes alimentos foram vendidos pelos moradores até meados de 1970. A partir desta data a comunidade passou a enfrentar sérios conflitos em função da construção da rodovia BR 101, que liga a cidade de Santos à capital do Rio de Janeiro. Esta obra teve como consequência a expulsão de parte da comunidade de suas terras.

ZUMBI MODERNO

Eu não podia esconder a minha curiosidade em conhecer pessoalmente o guerreiro Mário, figura muito comentada no meio. Partiu dele - o principal organizador das festividades do Quilombo - o convite para o encontro. À boca miúda, já se sabia que era Mário que os moradores da comunidade procuravam quando havia qualquer tipo de problema. Um homem valente que alguns chamavam de Zumbi do Século 21. E foi com estas informações um tanto quanto lendárias, que cheguei ao quilombo.

Olhei ao meu redor e fiquei surpresa ao constatar que em um amplo pedaço de terra, a única coisa que ainda lembrava um quilombo, na sua característica mais rudimentar, era a memória histórica dos seus habitantes. O mar me convidou e fui admirá-lo sentada naquela areia branca. Fiquei por um bom tempo absorta com os meus pensamentos. Confesso que até um pouco intimidada. No fundo sabia que aquela viagem causaria em mim uma profunda metamorfose...

Hora do almoço e, no cardápio, peixe azul-marinho (peixe com banana). E foi nesse momento que pude conhecer o tão falado Mário Gabriel do Prado, e entender o porquê dos rumores em torno da sua pessoa. Presidente do Quilombo com apenas 33 anos de idade, Mário é uma pessoa de poucas palavras, mas quando seu discurso é sobre os quilombolas, seus olhos tomam outro brilho e a sua fala se torna extremamente afiada. Dedica-se de corpo e alma ao tema, protegendo sua terra e sua gente como um grande líder. "Fiz da minha vida, a vida da comunidade, meu maior orgulho é saber que sirvo de exemplo para eles. Digo sempre que devemos lutar pelos nossos direitos, custe o que custar. Nunca me cansarei de lutar pela dignidade do meu povo", diz, com orgulho.


Entre a mata, uma das residências do Caçandoquinha. No detalhe (abaixo), a sede quilombola


OUTROS VALORES



Com a emoção à flor da pele e sedenta por conhecer mais histórias, resolvi conversar com o pessoal da excursão. Conheci o antropólogo José Carlos, que tanto quanto eu estava estupefato diante de tantas informações. Confessou-me que, depois daquele passeio, se dedicaria com mais profundidade à causa quilombola. Segui tagarelando pela orla da praia e neste interim conheci Neide Antunes de Sá. Uma das integrantes da Família Sá, permaneceu no Quilombo, mesmo diante de tantas dificuldades. Sua única filha tinha decidido estudar em uma importante Universidade no Paraná. Mas Neide ganhou outras dezenas de filhos. Há algum tempo vem desenvolvendo um trabalho de resgate com as crianças através de cantigas de rodas.

"ASSISTIR AS CRIANÇAS BRINCANDO DE RODA, ENTOANDO AQUELAS CANTIGA, COM AQUELAS ROUPAS CARACTERÍSTICAS, FOI UM DELEITE PARA OS MEUS OLHOS, ME FEZ RECORDAR OS MEUS TEMPOS DE CRIANÇA"

"Assistir as crianças brincando de roda, entoando aquelas cantiga, com aquelas roupas características, foi um deleite para os meus olhos, me fez recordar os meus tempos de criança." Neide afirma que, no começo, achou que as crianças não iriam gostar, mas ficou surpresa ao reparar a alegria e emoção que as brincadeiras despertaram nos pequenos. "É comum elas virem na porta da minha casa, me chamar para brincar, como se eu fosse uma delas. Eu amo este lugar, não saio daqui por nada neste mundo, já me ofereceram quantias exorbitantes, mas não aceito. Tenho criação de galinhas, fogão de lenha, ervas medicinais... Aonde vou encontrar tudo isto aí fora?", questiona Neide.

Reunidos todos em volta da fogueira, após o apetitoso jantar, fomos presenteados com o som do grupo de reggae D`Zion, com direito um sarau improvisado. Outras comunidades quilombolas deram o ar da graça no encontro - Brotas, Cafundó, Espírito Santo da Fortaleza, Agudos e Caçandoca. Para a surpresa de todos, recebemos a visita do grupo de teatro Galpão dos Folias, que apresentou a peça Algo de Negro, espetáculo que faz uma severa crítica social, com bom humor e bastante lirismo. Depois de deixar a galera de boca aberta, o grupo se despediu, pois a trupe está circulando com o espetáculo em outra tantas comunidades quilombolas.




MISSA AFRO A NOSSA SENHORA

Foram postas cadeiras na beira da praia, e um altar foi construído... A missa, realizada de forma tradicional, ora ou outra dava a vez para um som mais estridente de atabaques, pandeiros e até cavaquinho. O auge da celebração se deu com a chegada cinematográfica da matriarca, D. Maria, que chegou em um barco do alto-mar, acompanhada com a imagem de Nossa Senhora Aparecida. A sua espera, dentro da água, estava seu filho Mário. A partir daí, não contive mais as lágrimas, a emoção calou minhas palavras. Uma grande procissão seguiu a matriarca e os padres. Todos juntos, cantavam, louvando a santa que D. Maria erguia sobre a cabeça. Com este cenário magnífico, terminei meus dias no Quilombo, com a certeza que esta experiência enriqueceu (minha vida). Voltei meus olhos para as minhas raízes. Pude conhecer pessoas que seguem o exemplo de um negro que foi símbolo de resistência e luta. Percebi que, mesmo depois de três séculos, a batalha ainda continua...

COTIDIANO E ESTRUTURA

A economia da comunidade é a mesma dos caiçaras, isto é, baseia-se na atividade pesqueira e na agricultura familiar. Até a década de 70, os principais itens agrícolas produzidos eram a farinha de mandioca, o feijão, o arroz e a cana-de-açúcar (para rapadura e aguardente). Atualmente, a pesca e a coleta de mariscos - além da produção de banana - são as principais atividades produtivas. Muitos quilombolas também trabalham em serviços domésticos nas casas de veraneio dos condomínios de alto padrão. O ecoturismo é uma iniciativa recente na comunidade para a captação de recursos. Um dos problemas mais urgentes da comunidade é a falta de escolas.

Até meados da década de 90, havia duas escolas municipais de ensino básico, uma no Saco da Banana e outra na Praia da Caçandoca. Ambas foram fechadas, sob a alegação de que o número de alunos era insuficiente. Por isso os estudantes têm que se deslocar até a comunidade vizinha, e de lá seguir em veículo da prefeitura até Maranduba. A reabertura das escolas na Caçandoca é reivindicada pela comunidade, que pede tanto o ensino básico quanto cursos profissionalizantes para jovens e adultos