sábado, 10 de julho de 2010

. Quem é Cláudia Canto?
É complicado falar de nós mesmos, acredito que sempre subtrairemos ou somaremos alguns aspectos. A única coisa que acredito, é que os conceitos de verdades que tenho hoje poderão cair por terra amanhã, não tenho problema algum em mudar minhas opiniões, rever meus conceitos...
Hoje a Cláudia é uma pessoa inquieta, tentando buscar sempre a maturidade, e aprendendo em todas as situações.
Quero e pretendo adquirir a cada dia mais maturidade e discernimento. Permanecer sempre humilde na minha caminhada, e estar sempre rodeada de amigos.

. Lançou um livro, intitulado CIDADE TIRADENTES: DE MENINA A MULHER. Poderia nos falar sobre essa obra? É um livro biográfico?
Cidade Tiradentes de Menina a Mulher, é um livro que tinha a idéia a escrever há muito tempo, mas não sabia qual seria meu foco narrativo, sabia que não queria fazer um estudo antropológico ou geográfico.
Foi ai que surgiu a idéia de contar a historia da Cidade Tiradentes, como se ela fosse uma mulher, abordando temas como drogas, gravidez precoce, ONGS, etc, em paralelo com a minha historia no bairro.
E para me ajudar ainda mais, descobri que o Instituto Polis de pesquisa e o Centro Cultural Espanhol, estavam procurando agentes culturais do bairro.
Realizamos o trabalho: eu, Daniel Hilário, Bob Jay, Tio Pac, onde buscamos encontrar a maior quantidade de artistas, para no final criarmos um site com os artistas da Cidade Tiradentes.


3. Fale-nos da efervescência cultural da Cidade Tiradentes.
O que posso dizer é que a Cidade Tiradentes tem muito a ser descoberto e bastante a contribuir com a cultura em todos os sentidos. E por falar nisso, o site esta aberto para os artistas que não foram mapeados ainda, basta enviar um email: cartovideo@gmail.com


4.Sua história de vida está entrelaçada com a Cidade Tiradentes? O que representa de fato a região em sua vida?
Sim, claro! A minha base, minha educação, adquiri na Cidade Tiradentes, freqüentei os bailinhos, meu primeiro namoradinho foi lá... Se me virei na Europa, foi por tudo que aprendi na Cidade Tiradentes. Posso estar em qualquer lugar do mundo, mas a minha essência manterei.
Pode parecer demagogia, mas quem me conhece sabe que isso tudo é verdade.
O que puder fazer para contribuir com a Cidade Tiradentes, com certeza o farei.

5. Conte-nos algo sobre o seu livro "Morte Às Vassouras". Qual a sua abordagem, a partir de que necessidade ele nasceu?
Eu, a Juliana Penha, jornalista da Revista Rap Brasil, decidimos em menos de uma semana, que faríamos uma viagem para Europa, em busca de novos horizontes, para isso economizamos nossos míseros recursos, mas no último momento infelizmente o pai dela morre, nosso grande incentivador. Depois de pensar muito ela decide não seguir em frente com os nossos planos, e eu como já tinha comprado minha passagem não tive como voltar atrás.
Sem conhecer nada nem ninguém cheguei a Lisboa. Dentre outras coisas, acabei me tornando empregada doméstica em um casarão, cuidando de dois anciãos, praticamente em semi cárcere.
Foi desta experiência lapidante que nasceu Morte ás Vassouras, um diário onde relato toda esta experiência. Mas o mais interessante e que depois de dois anos voltei para Portugal e lancei o livro por lá...

6. Já foi chamada e é considerada Cidadã Operária do Mundo. Como se sente diante de um título tão significativo?
Sou sim, operária das letras, uma formiguinha que pretende fazer sempre algo de bom, em qualquer lugar que esteja. Procuro dar sempre o meu melhor, mas juro que não sabia que carregava este título, mas fico bastante congratulada.


7. Tem lançado seus livros em locais como os CEUS, e as escolas da periferia de São Paulo. Como é esse contato, qual a receptividade do público?
Adoro, me sinto muito bem, desejo que meus livros atinjam todas as pessoas, todas as classes sociais, não quero barreiras para minhas letras.
É muito bom, acredito que com estas aproximações, talvez consiga modificar o paradigma de que o escritor está sempre longe, em algum lugar inatingível...
Digo sempre: cada um tem uma maneira de se expressar no mundo e o meu é este, mas isto não quer dizer que é melhor nem pior.


8. Quantos livros já lançou?
Tenho quatro livros lançados: Morte ás Vassouras, Bem Vindo ao Mundo dos Raros, contos e crônicas de uma psiquiatria, Mulher Moderna tem Cúmplice, e o mais recente , Cidade Tiradentes de Menina a Mulher.

9. No campo de leitura literária, qual o gênero que mais aprecia, e mais satisfação lhe traz? Poesia? Romance? Contos? Crônicas?
Gosto de ler tudo que possa de alguma forma complementar as lacunas do meu espírito, e que ao mesmo tempo me traga mais discernimento.
Mas para escrever tenho mais facilidade com os contos e as crônicas.


10. O que pensa de eventos gigantescos, como a Bienal do Livro? Eles contribuem realmente para a difusão do livro?
Mesmo sabendo que só os escritores mais renomados têm espaço na bienal, acredito que é válido. A energia do evento é maravilhosa, é uma maneira de chamar atenção para a literatura.


11.Além de escritora, é jornalista. Para muitos , são as duas melhores profissões do mundo. E para você?
Para mim foi a forma que encontrei para dar voz a minha alma inquieta, como um cabeleireiro usa a tesoura para fazer seus cortes.
Cada um tem seu papel no mundo, mas o mais importante e descobrirmos qual o nosso talento, no que somos melhores, e a partir disto correr atrás.


12. Diga algo ou algumas coisas que fazem com que sinta uma imensa tristeza,
Fico imensamente perturbada e triste, com as pessoas que não tem abrigo, que estão em situação de rua.
Para muitos isto é uma paisagem rotineira, não incomoda, mas eu fico muito mal...


13. Como vê a influência tecnológica no mundo, acredita que o futuro é sombrio? Até que ponto a tecnologia interfere nos costumes e na cultura dos povos?
As coisas acabam se interligando de alguma forma. Quando a televisão apareceu, muitos acreditaram na falência do rádio, mas com o tempo perceberam que as coisas vão tomando cada um o seu lugar, não enxergo um futuro sombrio por causa da tecnologia, mas sim no que diz respeito ao nosso planeta.
O planeta esta pedindo socorro, e ninguém esta tomando nenhuma atitude.


14. A Internet, inclusive, está mudando o conceito de autoria. Como vê essa questão para o artista, o escritor, enfim, para o autor?
Não tenho problemas com isso, pelo contrário, se alguém se prestar a fazer um tipo de coisa como esta, significa que o que escrevo agradou tanto a pessoa, que ela se prestou a correr este risco.
O peso na consciência tem que vir da própria pessoa.
Eu mesmo me inspirei muito em Hermam Hesse, para escrever! Somos os outros...
Tenho planos de colocar alguns dos meus livros na net, transforma-los em E.book.
O universo pede equilíbrio, nada é nosso de fato, tudo nos foi emprestado, devemos tentar sempre repartir.


15. Defina o que é para você a felicidade.
Depende, hoje a felicidade para mim é ter o meu trabalho reconhecido por um grande número de pessoas, mas amanhã pode ser outra coisa.
Felicidade depende de varias coisas, do momento que se vive, da idade, da maturidade etc


16. Quais os seus projetos como escritora?
Tenho planos de lançamento na Europa, vou levar a Cidade Tiradentes para todos os cantos, sem barreiras...

17. Diga um livro ou mais de um, que realmente influenciou a sua vida de alguma forma.
São muitos os livros, sou a soma de tudo que leio, desde Machado de Assis, Lima Barreto, Gabriel Garcia Márquez, Marcelo Rubens Paiva, Plínio Marcos, José de Alencar, Dostoieviesk, uma amiga que escrevia muito na Faculdade, frases de pára-choque, as poesias dos saraus, enfim, tudo que me tocar.

18. Já deve ter ouvido dizer que Poesia não vende. Para você, isso tem sentido ou é uma invenção editorial?
As pessoas que não conhecem poesia acham que e uma coisa maçante, por isto que muitas editoras não investem. Mas os inúmeros saraus que esta acontecendo por todos os lados, acredito que esteja servindo para quebrar certos conceitos.


19. A Poesia é necessária no mundo atual?
Sim, sem dúvidas!


20- Promove e participa de saraus com o público feminino. Como vê a participação da mulher atualmente na produção cultural?
A mulher está enfim, conquistando seu lugar de direito!! Isto em todos os setores, principalmente nas produções culturais.
Aqui ou ali, sempre tem a presença de alguma mulher...

21. Deixe a sua mensagem para PALAVRA FIANDEIRA.


Parabéns pela nobre iniciativa!
Continue assim... E no que eu puder colaborar, estou inteira à disposição.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Cinco vidas em uma só: experiências e desventuras de uma jornalista em livro

Cinco vidas em uma só: experiências e desventuras de uma jornalista em livro
Por Izabela Vasconcelos, de São Paulo

A vida reservou para ela momentos inéditos, um conjunto de situações que pouca gente viveu. De jornalista a imigrante ilegal na Europa e técnica de enfermagem em clínica psiquiatra no Brasil. É assim a vida nada comum de Cláudia Canto, que, de cada aventura e aprendizado, fez um livro.

Empregada doméstica, enfermeira, freelancer e escritora
Chegar à Europa com 500 euros do bolso, viver como imigrante ilegal, trabalhar como empregada doméstica em cárcere privado são algumas das lembranças que a jornalista tem para contar. “Cheguei a fazer frilas na Europa, escrever para jornais, e a vender anúncios também, mas não podia mostrar minha cara, porque eu estava como ilegal”, conta Claudia, que encontrou na função de empregada doméstica um caminho para o sustento.

De um ano que ficou na Europa, oito meses foram em cárcere privado em um Palácio em Lisboa, onde trabalhou cuidando da mansão. Entre as experiências vividas, essa foi a mais difícil. “Trabalhava e cuidava de dois idosos na casa, não tinha praticamente folga, nem podia sair pra nada, nem pra telefonar”. Não voltar de “mãos abanando” foi o que motivou Claudia a continuar na “prisão”.

A jornalista, que só tinha algumas horas para sair no domingo, recebeu propostas para se prostituir, conheceu algumas pessoas da noite, mas se negou a entrar nessa vida. “Tive sim a opção de ter me tornado uma prostituta, mas descobri que, para tal, o talento é primordial, e me falta este recurso, felizmente, ou infelizmente”, revela.

Foi dessa “aventura” que nasceu o “Morte às vassouras – Diário de uma jornalista que se tornou empregada doméstica em Portugal”, publicado em 2002 pela editora Edicon, que, de acordo com ela, “retrata a mediocridade humana”.

O livro foi lançado em Portugal e está sendo traduzido para o espanhol. Apesar dessas vitórias, Claudia critica a imprensa, por não dar espaço aos projetos alternativos. “Não saiu nada sobre o meu livro na grande imprensa européia. Houve uma certa censura. Foi publicado só nos jornais alternativos”, desabafa.

Transtornado e escritor: todo mundo tem um pouco
Depois dessa obra, Claudia mal imaginava que estava prestes a passar por outra experiência que lhe renderia mais um livro, a de técnica de enfermagem, uma de suas formações, em uma clínica psiquiatra. No primeiro dia em seu novo emprego, foi recepcionada por um homem que apresentava todos pelas suas respectivas doenças mentais.

“Agora você deve estar querendo saber o que eu tenho, né?! Eu sou o genro do George Bush e só não saí com a Madonna porque eu não quis”, apresentou-se o homem com transtorno bipolar. “Isso é para eu escrever de novo, pensei. Eu creio nas oportunidades. E esse foi até um livro didático, de acordo com os conhecimentos que tenho desses casos”, diz a jornalista, que publicou seu segundo livro, o “Bem-vindo ao mundo dos raros – Contos e crônicas de uma psiquiatra”. Depois da passagem pela clínica, Claudia também participou de palestras sobre o tema, onde, vestida como paciente, interpretava os casos que presenciou.

“Mulher Moderna Tem Cúmplice”, uma provocação aos machistas, é sua mais recente obra. No livro, a jornalista aborda o drama dos relacionamentos atuais e violência contra as mulheres.

A cidade dormitório virou mulher
Nascida e criada em Cidade Tiradentes, periferia da zona leste de São Paulo, a jornalista faz do bairro, conhecido como “cidade dormitório”, sua nova obra. “Cidade Tiradentes, de menina a mulher”, que deve ser lançado ainda neste mês, a região é tratada como uma personagem que cresce entre desafios e conquistas.

“Faz tempo que eu queria fazer um livro sobre o meu bairro. Fui então convidada pelo Instituto Polis para montar um site sobre Cidade Tiradentes e reunir material sobre o bairro para o site. Essa foi a oportunidade”, explica Cláudia, que sempre atuou e ainda trabalha em projetos e veículos alternativos, palestras, saraus, e com tudo isso, divide também espaço entre a enfermagem e o jornalismo, em veículos da zona leste da cidade.

Arrependimento por alguma das experiências? Nunca. “Não me arrependi com nada. Pelo contrário, estou caçando outros assuntos polêmicos. Essas experiências me trouxeram maturidade e humildade”, diz a jornalista, imigrante ilegal, empregada doméstica, enfermeira e escritora, com suas “cinco vidas”.

segunda-feira, 5 de julho de 2010



Tem algum negro na platéia?

Resolvi dar um pulinho em Paraty, mais especificamente região sul do Rio de Janeiro, na famosa feira internacional do livro.

Juntos estavam dois poetas: Pilar e Talapaxi, além de um intelectual alemão, que muitos acredito que já o conhecem como o inventor de um novo tipo de veículo modular (que pode ser transformado instantaneamente conforme a necessidade do usuário, mais ou menos como o brinquedo lego.)

Enquanto Pilar e Talapaxi, vendiam suas poesias a contra gosto dos organizadores, que proibiram todo tipo de comercialização nos arredores do evento, incluindo as poesias, como se poesia fosse algum tipo de droga.

Mas como estamos no Brasil, a vigilância foi afrouxando, afrouxando e depois liberou tudo.

Acho que a voz da sensatez chegou aos ouvidos dos organizadores.

E eu filmava tudo que de mais pitoresco achava no caminho. Acabei com isto descobrindo uma Paraty diferente da que vemos na grande mídia, um lado alternativo que gostei muito.

Fiquei bastante satisfeita com isto, pois pude notar uma quantidade razoável de negros, índios, caiçaras, poetas autônomos, artistas plásticos e outros tantos...

O ponto alto da festa se concentrou na praça principal, onde se via bonecos gigantes, correndo desesperados das crianças que tentavam a todo custo arrancar as máscaras dos coitados dos bonecos. No mesmo local foi instalado uma grande tenda, reservada para as crianças, ali acontecia o encontro dos autores infantis, e chamaram o lugar de Flipinha.

Logo ao lado, outra tenda com um telão que transmitia os debates que aconteciam ao vivo na tenda dos autores.

Foi ali no telão, que consegui ouvir o Chico Buarque, na verdade ouvia o ruído das suas palavras, devido à aglomeração, parecia que a Flip inteira se voltou para este momento. Chico leu alguns trechos do seu novo livro: “Leite derramado”, que me pareceu interessante.

Quanto a mim, logo cansei de tentar ouvi-lo, e resolvi dar umas voltas, foi então que encontrei os poetas maloqueiristas, também divulgando suas poesias.

Oh vida dura! A vida dos poetas... Depois dizem que poeta não gosta de trabalhar.

Ficamos hospedados em um camping, no meu caso foi à primeira vez, gostei muito... Quero repetir.

Conheci o pessoal da “OFF FLIP, na verdade uma flip underground, e olha que não fica a perder em nada para FLIP tradicional..

A OFF FLIP desenvolve várias atividades, dentre os quais: saraus, palestras, lançamentos de livros de escritores anônimos, e com isto aumentam as oportunidades para os artistas divulgarem os seus trabalhos.

Tive muita sorte, porque pude assistir a muitas palestras de alguns formadores de opinião: jornalistas franceses, americanos e outros, puderam desta forma conferir as vertentes do novo jornalismo.

Mas o grande momento da Flip, pelo menos para mim, foi na palestra do jornalista Simon Schama, quando uma pessoa da platéia, perguntou: O que o senhor acha da ausência de negros na platéia?

Ele em tom de brincadeira colocou os óculos, procurou calmamente e depois de constatar, disse: é verdade não tem mesmo, acho que isto foi um erro da FLIP!

Enquanto do lado de fora eu gritava ingenuamente, sem poder ser ouvida:

Como não, olha eu aqui, ei, ei, ei...

Mal sabia o tal experiente jornalista, que o "buraco" da FLIP, está em todos os segmentos da sociedade